Tuesday, November 27, 2007

Acabou o trabalho, Cahora Bassa...

... após 500 anos de Portugalidade conquistada á força de patriotismo, palavra hoje em dia obsoleta que já nem parte faz de dicionário algum, partimos a última amarra entre continentes feitos de história.

"A história de Cahora Bassa, é uma história que pode ser escrita hoje, amanhã, depois de amanhã. Não é uma história que, para ser escrita, necessite da abertura de arquivos secretos. Dentro de dias, como se anuncia, quando aí vier o Primeiro Ministro de Portugal, para assistir à passagem da gestão de Cahora Bassa para Moçambique, pede-se lhe uma coisa muito simples. Pede-se lhe, apenas, que assuma a derrota de Portugal em Alcácer Quibir. E que diga que dom Sebastião haverá nunca mais de voltar. Que o sebastianismo é um mito. Mas que diga, também, que tenha a coragem de dizer, que os apetites coloniais de Portugal se prolongaram até 2007. E que ele, este e actual Primeiro Ministro de Portugal, aqui virá como último colonizador africano. Queiramos ou não, a história haverá de registar quem foi o último colonizador a abandonar África."

retirada da net

Wednesday, November 21, 2007

sinto-me romântica...

Folhas de rosa
Todas as prendas que me deste, um dia,
Guardei-as, meu encanto, quase a medo,
E quando a noite espreita o pôr-do-sol,
Eu vou falar com elas em segredo ...
E falo-lhes d'amores e de ilusões,
Choro e rio com elas, mansamente...
Pouco a pouco o perfume do outrora
Flutua em volta delas, docemente ...
Pelo copinho de cristal e prata
Bebo uma saudade estranha e vaga,
Uma saudade imensa e infinita
Que, triste, me deslumbra e m'embriaga
O espelho de prata cinzelada,
A doce oferta que eu amava tanto,
Que reflectia outrora tantos risos,
E agora reflecte apenas pranto,
E o colar de pedras preciosas,
De lágrimas e estrelas constelado,
Resumem em seus brilhos o que tenho
De vago e de feliz no meu passado...
Mas de todas as prendas, a mais rara,
Aquela que mals fala à fantasia,
São as folhas daquela rosa branca
Que a meus pés desfolhaste, aquele dia...
Florbela Espanca

Monday, November 19, 2007

Apesar da gripe...

recebi uma noticia que me deixou feliz como se da minha familia se tratasse:
os leões da Gorongoza voltaram ás suas casas, que mais não são que habitações de res-do-chao e 1º andar pertencentes ao 1º Acampamento Turistico do Chitengo, abandonado por um bem mais sofisticado.
O 1º já não é do meu tempo, mas os leões habitando as casas, subindo as escadas e deitando-se no terraço olhando o tando ao nascer do sol, está tão presente como se os tivesse visto ontem!!
Afrika está muito mais próxima de mim que a Europa...

Wednesday, November 14, 2007

Eu já não sei se...


a minha vida é aquela enquanto eu durmo, ou quando estou acordada
se a minha vida são as minhas recordações ou esta presente vida diária
se se tem direito a duas vidas vividas simultaneamente
se posso optar por viver mais num tempo que no outro
se vivemos 3 vidas, a real, a das recordações e a do sono
se nos encontramos com pessoas das 3 vidas
hoje um amigo me perguntou se eu me sentia Portuguesa?!
porque não? sempre considerei as colónias território Português e apesar de ter nascido em terras na altura ainda de Sua Magestade, a minha vivência foi em terras bem portuguesas até Junho de 1975. Mas a minha primeira nacionalidade é Africana e ela permanece sempre, embora por vezes ...
sou Portuguesa por ex. quando trabalho, quando resolvo problemas da vida diária, quando guio, de preferência pela direita ... e em todas as alturas em que a imaginação é dispensada
sou Moçambicana quando durmo, sempre,
sou Afrikana quando me evado, quasi diáriamente, para o meu continente onde tudo é certo, simples e claro como diria Reinaldo Ferreira. São as férias que eu escolho, as melhores do mundo porque tudo me é conhecido, vivido e belíssimo.
Não sei se alguem, de uma das minhas 3 vidas, me poderá entender?!

Sunday, November 11, 2007

Ebony and IVORY....








and so on...
Todas as peças que possuo me foram oferecidas, a maior parte delas por herança.
Vi hoje um programa na NG sobre elefantes, que são os animais selvagens de que mais gosto e mais temo, referindo que actualmente é rarissimo encontrar animais com 60 ou 70 anos e que, devido á idade, possuam presas de tamanho consideravel que nos habituámos a admirar em Afrika.
No meu tempo de criança eu ia sempre á caça com os meus Pais e amigos, com caçadores de nomeada, entre eles o Alberto Araújo, amigo de peito de meu Pai e da nossa familia.Eram noites divertidas porque iam um ou dois camiões de apoio e 2 ou 3 camionetas com as quais nos aventurávamos nos tandos á procura de leões, impalas, leopardos e ás vezes elefantes e búfalos.A caça era feita com focos de luz na testa dos caçadores, que encandeavam os animais pelos olhos que conforme a cor e brilho se sabia de que raça eram.
Depois do animal morto,os pretos guias saltavam das caixas abertas e iam retirar os trofeus, ficando a carne para as populações.
A caça era sempre á noite, a partir das 3 ou 4 da manhã muito antes do amanhecer, ou então no crepusculo junto aos rios onde os animais iam beber.
Numa das vezes que fomos ao Kangan" tole, o acampamento de caça do Sr. Araujo, construido em palafita de madeira e com todas as comodidades, vi 2 pares de dentes de elefantes colossais, abatidos por ele, que deviam pertencer a elefantes de muitas toneladas.
Antigamente os safaris eram sempre de caça, nos ultimos tempos são sempre fotográficos, salvo raras excepções em que os animais abatidos são pagos ao preço do ouro!!
Tambem na nossa "farm" de gado na Zambezia, Charre, Sossone, era frequente noite alta, passarem rente á casa quizumbas, ou leões ou leopardos em direcção aos currais de gado, para buscarem alimento.
Quando a matança era exagerada os caçadores amadores locais que tambem tinham gado juntavam-se e faziam uma espera acabando por matar os intrusos. Não foram poucas as vezes em que quando ia para a "farm" passar férias, ser acordada de noite com um buzinar ensurdecedor de várias camionetas e gritaria dos pretos todos contentes por se ter apanhado o animal predador que jazia na parte de trás e todos nós íamos admirar!!! o mais frequente era o leão.E depois faziamos uma patuscada!
A vida em Afrika, naquele tempo, era cheia de côr...
Eu era pequena, entre os 4 e os 10 anos, mas tudo me ficou gravado e, como acontecia aos nossos animais, gravada a fogo com o ferrete em brasa e com a letra A de Afrika, minha terra.