CRÓNICA retirada da net do Blog Gente da minha Terra- sobre Moçamedes-Namibe- Angola
Cada homem já foi menino.
Já teve um cavalo de fogo, galopando pelos céus, até paragens sem nome.
Um cavalo de sol, sem arreios, sem crinas, galopando, hoje, para o sul, amanhã para o norte, numa ânsia louca de aventuras, numa busca esperançosa de algo.
De quê?
E com o decorrer dos anos, em cada galopada, qualquer coisa ficava pelo caminho.
corcel das nuvens, viajando sem destino, era os sonhos, o terrífico sabor da procura do desconhecido.
Mas o menino foi crescendo.
E o cavalo de fogo, passou a ser um simples cavalo de pau, de olhos desbotados de cartão e crinas desfiadas…Era o fim da sua história.
O ‘nunca mais’ de cada infância.
Porque cada menino que cresce, chama-se homem.
E embora todos os homens tivessem sido meninos, tivessem galopado em cavalinhos de pau, esquecem-se de tudo isso.
Perdem todas as recordações.
Delas nada fica: nem um cheiro, um ruído, uma cor, um sonho. Separam-se como folhas secas soltas ao vento.
Seguem, errantes e indiferentes, sem olhos para ver o sol ou a lua, sem mãos para se estenderem a quem passa, imersos numa névoa que os separa.
Porém para lá da bruma, que ficará? Crinas desfraldadas em galopadas sem direcção? Corridas por valados e banhos em ribeiras escondidas? Que importa, afinal, sabê-lo?
Porque na hora de o sabermos, já os homens têm as mãos feridas pelos espinhos, já seguiram separados, levando na alma cicatrizes que lhes ficaram pelos caminhos andados.
É pena que o menino cresça.
E como um vento furioso, a vida sacuda as raízes da sua alma, da alma onde outrora morava um cavalo de fogo.
Um cavalo magoado que foi morrendo, como um lírio de paixão, negro como um céu sem estrelas.
O cavalo de todos os meninos, o cavalo das ilusões.
Vera Lúcia (Moçamedense)
É preciso ter o calor infernal do deserto de Moçamedes, agora Namibe, a correr nos vasos do nosso corpo, oferecendo-nos a única flor do mundo que se chama Welwitchia Mirabilis, é preciso ver aquele oceano que parece Indico a banhar-nos, é preciso ter passeado na época do cavalo de fogo e anos mais tarde num cavalo de ilusões, é preciso saborear um cacho de uvas que parece continental e que se nos oferece em duas colheitas por ano...é preciso ter uma Avó que viveu e casou em Moçamedes, é preciso ter passado uma parte da lua de mel em Moçamedes, para ter tambem saudades dessa terra e do cavalo de várias cores que anos mais tarde buscámos em Moçambique
É preciso ter idade.
É preciso ter memória.
É preciso ter SAUDADE.
Wednesday, April 22, 2009
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