... faz-me viver intensamente, de forma louca, os portos de antigamente de S. Tomé, Madeira, Luanda, Port Elisabeth, Durban e ate o porto de Lisboa onde tudo acabava e começava.
A doidice da descoberta de cada lugar, noite adentro a respirar esta humidade perfumada de sal, tinta, óleo, verde e encontrar o futuro e sonhar com a felicidade ali á frente esperando por mim! Tenho a sorte de ter esta minha casa quasi á beira do rio onde mora o porto dos barcos, dos guindastes, das mercadorias. Não é todos os dias! Mas quando a maresia aparece, sempre á noite, fecho os olhos, choro e mergulho intensamente como se fosse totalmente transportada para o passado, ao encontro dela e das terras onde outrora ela vivia e noutro tempo e dimensão nos encontrámos e onde eu fui tão feliz e protegida, com a alcatifa vermelha do futuro desenrolada á minha frente com promessas de mel e rosas em que eu acreditava. Tive um ou outro mel e algumas rosas, mas não o caminho atapetado delas nem mel e ambrosia no Olympo...
Mas tenho este verso da minha poetisa preferida, que fala como eu:
A minha esperança mora
no vento e nas sereias-
È o azul fantástico da aurora
E o lirio das areias.
Sofia Mello Breyner
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